As finanças do Vitória em 2020: com receitas reduzidas e mais dívidas do que pode pagar, o clube luta contra o apequenamento

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O barradao.com traz para você mais uma notícia do Esporte Clube Vitória.
Aqui você fica sabendo das notícias publicadas nos quatro maiores sites esportivos do Estado da Bahia, confira abaixo o que acabou de sair na mídia.

Funcionários do Vitória começaram o ano de 2021 com um anúncio ingrato: salários de funcionários seriam reduzidos em 25%. A jornada de trabalho também diminuiria, com "turnões" de seis horas.

O clube alegou, como motivo, dificuldades econômicas causadas pela pandemia do coronavírus. Só os funcionários com remuneração inferior a R$ 1,5 mil por mês continuariam a receber esse valor integralmente.

No decorrer de 2020, atrasos salariais foram um problema constante. Só em dezembro a associação conseguiu um empréstimo bancário para quitar parte do que devia a funcionários e jogadores.

Entre as dívidas, havia pendências com o elenco profissional referentes a 2019, direitos de imagem de duas temporadas acumuladas, além de atletas do futebol feminino com atrasos de agosto e outubro.

O futebol também tem sido prejudicado de outras maneiras. Em dezembro, por falta de pagamento ao Cianorte, por um goleiro contratado em 2018, o Vitória foi proibido de registrar jogadores.

Nem mesmo o técnico que o presidente Paulo Carneiro pretendia ter ficou no cargo. Em junho, Geninho foi dispensado. O motivo alegado para a demissão do treinador foi a crise financeira rubro-negra.

Por que tantas notícias negativas? Neste texto, último da série sobre finanças, o ge passa pelo balanço anual mais recente do Vitória para ajudar o torcedor a entender a dimensão da crise.

1 de 1 As finanças do Vitória — Foto: Infoesporte

As finanças do Vitória — Foto: Infoesporte

Panorama

A análise começa pela comparação entre faturamento (tudo o que foi arrecadado em cada temporada) e endividamento (o que havia a pagar no último dia de cada exercício). E o Vitória, que não estava acostumado a constrangimentos financeiros, vive seus piores dias.

As dívidas correspondem a cinco vezes a arrecadação. É a pior relação que o clube registra em mais de dez anos. Não faz muito tempo, anos atrás, o quadro apontava para receitas maiores do que as obrigações.

E, ao contrário do que diz sua diretoria, a crise não começou com o coronavírus. A pandemia agravou a queda do faturamento que o Vitória vem contabilizando há anos. Mas os problemas mais graves – leia-se: mais compromissos do que o clube conseguiria pagar – são mais antigos.

A relação entre receitas e dívidas do Vitória
Permanência na Série B impede que arrecadação volte ao patamar de primeira divisão
Fonte: Balanços financeiros

Receitas

Um cidadão que tinha uma vida financeira tranquila, mas que perdeu o emprego e não conseguiu encontrar renda para repor o salário perdido. Talvez este seja um paralelo honesto para deixar a situação do Vitória mais clara. É o que se percebe ao analisar as entradas de dinheiro.

A título de contexto: o clube fazia parte do Clube dos 13 até 2011, momento de sua dissolução. E mesmo depois disso, no período entre 2012 e 2018, o clube baiano teve contratos fixos com a Globo, que lhe davam uma receita digna de primeira divisão, ainda que jogasse mal.

Esse sistema mudou em 2019. A partir de então, quem cai para a segunda divisão não tem paraquedas. A cota da Série B foi fixada em R$ 8 milhões por ano para cada competidor – um valor que ainda diminui um pouco por causa de deduções, como impostos e direitos de arena.

Esta é a primeira linha: a dos direitos de transmissão. Como não consegue voltar para a primeira divisão, o Vitória está fraco justamente na fonte que costuma ser a mais importante para financiar o clube.

O perfil do faturamento do Vitória em 2020
Fragilidade em todas as linhas de receita dificulta recuperação financeira
Fonte: Balanços financeiros

Nota técnica: em seu balanço, o Vitória une "premiações", "sócio-torcedor" e "loterias" em uma única linha, de maneira inadequada.

Por causa de uma contabilidade pouco usual, o entendimento das receitas fica ligeiramente comprometido. Premiações deveriam aparecer entre os direitos de transmissão. Loterias, em "outros". Por falha no detalhamento adotado pela diretoria, os três valores estão em "torcida".

O blog destaca a seguir alguns valores separadamente.

Patrocínios

  • R$ 8,8 milhões em 2016
  • R$ 5,7 milhões em 2017
  • R$ 6,5 milhões em 2018
  • R$ 1,1 milhão em 2019
  • R$ 3,2 milhões em 2020

Bilheterias

  • R$ 2,4 milhões em 2016
  • R$ 4,3 milhões em 2017
  • R$ 3,4 milhões em 2018
  • R$ 2,2 milhões em 2019
  • R$ 600 mil em 2020

Transferências de atletas

  • R$ 2,3 milhões em 2016
  • R$ 18,0 milhões em 2017
  • R$ 16,5 milhões em 2018
  • R$ 21,3 milhões em 2019
  • R$ 3,8 milhões em 2020

Nota-se que, de maneira geral, todas as receitas encolheram nos últimos dois anos. Só que apenas uma delas está diretamente prejudicada pela pandemia do coronavírus: as bilheterias. Com estádios fechados para o público país afora, não havia como vender ingressos.

Na área comercial e no departamento de futebol, responsável por negociar direitos de jogadores, o Vitória opera abaixo de seu próprio histórico, muito abaixo do rival Bahia e aquém do que suas despesas e dívidas exigem. Enfim, abaixo do necessário em todos os pontos de vista.

Orçado versus realizado

Em todos os textos sobre as finanças, o blog faz a comparação entre orçamento e balanço. A ideia é colocar em paralelo as projeções feitas pelos dirigentes e os resultados obtidos por eles depois de um ano. Neste caso, não será possível. O clube não publica orçamento.

Dívidas

Traçando novamente um paralelo com a vida de um cidadão comum para facilitar o entendimento, este sujeito não está com as despesas do cotidiano estouradas. Ele tem dificuldades para fechar a conta, mas desde que perdeu o emprego tem reduzido seus custos.

O problema é que esse cálculo de renda menos gastos pode não estar arrebentado, mas as dívidas que o indivíduo fez no passado estão sendo cobradas. Quando ele coloca no papel o financiamento do carro, as parcelas dos eletrodomésticos, não consegue dar conta de tudo.

Este é, de novo, o Vitória. Nos últimos dois ou três anos, despesas têm sido reduzidas para compensar a redução das receitas. Se não houvesse um endividamento acumulado no passado, não haveria uma crise tão difícil de lidar. Quando as dívidas entram na conta, complica de vez.

No quadro abaixo, o endividamento foi separado de acordo com o prazo para pagamento. A linha vermelha, que representa obrigações a pagar em menos de um ano, saiu de zero cinco anos atrás e sobe sem parar.

É por isso, principalmente, que o Vitória está em crise. São R$ 50 milhões cobrados no curto prazo, isto é, no decorrer de 2021. Se todas as receitas somadas fazem a metade disso, e ainda há despesas, como pagar?

O perfil do endividamento do Vitória por vencimento
Aumento das dívidas a pagar em menos de um ano aperta o caixa rubro-negro
Fonte: Balanços financeiros

Paulo Carneiro tem buscado empréstimos bancários para fechar os buracos no orçamento. Esta é uma novidade para o Vitória. O clube não tem um histórico de devedor para instituições financeiras.

Somente em 2020, o dirigente pegou R$ 44 milhões emprestados e pagou R$ 29 milhões em créditos que estavam para vencer. A diferença virou dívida a mais. O dinheiro rodou como nunca nesse toma lá, dá cá.

Essas eram as dívidas bancárias em 30 de dezembro:

  • R$ 15,5 milhões ao Banco Daycoval (a pagar em 2023)
  • R$ 5,3 milhões a pessoas físicas (a pagar em 2021)
  • R$ 470 mil ao Banco Itaú (a pagar em 2021)
  • R$ 190 mil ao Banco Bradesco (a pagar em 2024)

Qual é o problema? Banco não empresta dinheiro para clube de futebol na confiança. Em contrapartida, as instituições exigem contratos de televisão como garantia. Lá na frente, o dinheiro nem passa pelo caixa do clube; ele vai direto ao credor para pagar esse empréstimo.

Na prática, Carneiro tem antecipado receitas futuras por meio desses créditos. Assim ele consegue dar conta de algumas despesas e dívidas hoje, mas acaba dificultando a vida de quem vier na sequência.

Essa nem é a pior fração do endividamento rubro-negro. No todo, apenas 12% correspondem a empréstimos bancários ou com pessoas ligadas à administração. A maior parte diz respeito a parcelamentos de impostos que não foram pagos no passado. São 57% do total.

Esses parcelamentos não costumam ser um problema muito grave, na maioria dos casos. Basta manter os pagamentos em dia. Acontece que, no Vitória, os valores são altos e exigem um desembolso relevante. Está incluído aí também o Profut do Vitória S/A, de 20 anos atrás.

A dificuldade para pagar tudo faz com que atrasos aconteçam. E esses atrasos se manifestam na dívida "trabalhista" (confira no gráfico abaixo).

O balanço registrou variação nocivas:

Obrigações e encargos trabalhistas

  • R$ 9,9 milhões em 2019 (a pagar em 2020)
  • R$ 14,2 milhões em 2020 (a pagar em 2021)

Neste item, é normal ter alguma dívida "corrente". O balanço fecha em dezembro, existem valores a pagar em janeiro. Mas não tão altos. Se o elenco está ficando a cada temporada mais barato, como poderiam os compromissos ligados a salários ficarem maiores? Pois é, atrasos.

Ainda compõem as dívidas trabalhistas acordos com ex-jogadores e ex-funcionários, que aliás reduziram um pouco, e ações que são movidas na justiça contra o Vitória. São aqueles em que não houve acordo.

O perfil do endividamento do Vitória por tipo
Parcelamentos de impostos não pagos no passado representam maior parte dos compromissos

Dívidas não provisionadas

O Vitória tem ações judiciais (cíveis e trabalhistas) movidas contra ele em andamento. Em cada balanço, a diretoria determina a probabilidade de perda nesses processos segundo as nomenclaturas:

  • "Provável"
  • "Possível"

Apenas os valores de perdas "prováveis" são inseridos no passivo e consequentemente no endividamento demonstrado nos gráficos anteriores. Além deles, o Vitória possui R$ 11 milhões em processos em que seu departamento jurídico considera a derrota apenas "possível". Isso significa que o endividamento pode ficar ainda maior.

Futuro

No futebol brasileiro, clubes em condição financeira crítica praticaram irresponsabilidades por muito tempo. A crise costuma ser o resultado de anos e anos, às vezes décadas, de erros consecutivos de dirigentes.

O caso do Vitória é diferente. O clube não apenas era razoavelmente vitorioso, uma década atrás, também tinha uma condição financeira que, se não era pujante, ao menos estava organizada.

O quadro se deteriorou muito rapidamente. Ainda não é uma crise tão horrorosa quanto a de outros clubes, a ponto de causar desesperança na torcida. Mas elas é suficientemente grave e demonstra seus efeitos.

O maior risco que o Vitória corre é o do apequenamento. Receitas baixas exigem cortes nas despesas. Austeridade demais compromete a qualidade do elenco. Consequentemente, futebol ruim faz com que a associação continue na Série B e… não eleve suas receitas.

Do jeito que a história tem se desenrolado, cada temporada de notícias negativas no campo financeiro fará com que a recuperação se torne mais difícil e dolorosa. Rolar dívidas com empréstimos bancários tem sido a única a saída disponível. Até o dia em que não for mais.

PS.: Escrevi um livro sobre o futebol brasileiro, "O futebol como ele é", para contar como o dinheiro e a política interferem no que acontece em campo. Ele está à venda na loja da Grande Área (é só clicar no link).

Fonte: https://ge.globo.com/blogs/blog-do-rodrigo-capelo/post/2021/07/23/as-financas-do-vitoria-em-2020-com-receitas-reduzidas-e-mais-dividas-do-que-pode-pagar-o-clube-luta-contra-o-apequenamento.ghtml


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