Abel Braga deixou o comando do Flamengo nesta última quarta-feira. A diretoria rubro-negra mira o português Jorge Jesus para assumir o time até o fim de 2019, de olho nas disputas de Libertadores, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro.
O currículo do possível novo comandante é indiscutível. Mas será que trazer um treinador estrangeiro é uma boa aposta, ainda levando em conta que estamos no meio da temporada?
Desde 2003, início da era dos pontos corridos, técnicos gringos treinaram os times brasileiros em 21 oportunidades. E os números não são nem um pouco animadores. O tempo médio de permanência é de 129 dias (pouco mais de quatro meses) e a média de aproveitamento é de 50,06%. Na pesquisa feita pelo GloboEsporte.com, foram levados em conta os números dos times* que mais disputaram a Série A do Campeonato Brasileiro no período de 2003 a 2019.
Diego Aguirre, pelo São Paulo em 2018, e Edgardo Bauza, pelo São Paulo em 2016, são os técnicos que mais duraram no comando. Do outro lado, Petkovic, em 2017 pelo Vitória, e o português Sergio Vieira, em 2016 pelo América-MG, tiveram as passagens mais curtas. Veja a lista completa abaixo:
Tempo de permanência dos técnicos gringos nos clubes
Fonte: GloboEsporte.com
Para o comentarista Roger Flores, do Grupo Globo, a cultura brasileira de trocas constantes impede que os técnicos estrangeiros consigam um bom desempenho no futebol do país.
– Apostar em um treinador gringo no Brasil é difícil porque a gente não dá muito tempo de trabalho. O Jesus, se for contratado pelo Flamengo, vai levar algum tempo até pra conhecer os jogadores, provavelmente ele não conhece todo mundo. Agora, se a nossa cultura permanecer desse jeito, o gringo vem com uma desvantagem muito grande. Se você analisar o currículo dele, é um currículo importante no futebol português, já fala a língua. Mas, a grande maioria dos trabalhos não funciona por conta da falta de tempo que eles têm pra trabalhar.
O único a conquistar um título no período foi Diego Aguirre. O uruguaio foi campeão gaúcho com o Internacional em 2015. Aguirre é também quem mais teve passagens pelo Brasil. Além do Inter em 2015, passou pelo Atlético-MG em 2016 e pelo São Paulo em 2018. Os 241 dias no Tricolor Paulista no ano passado é o recorde de tempo de permanência de um técnico estrangeiro em times brasileiros desde 2003.
Aguirre na final do Gáucho de 2015, conquistada pelo Internacional — Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com
Quem foi bem? Quem mandou mal?
Em números, quem teve o melhor desempenho foi o alemão Lothar Matthäus, no Athletico-PR, em 2016. Em sua curta passagem pelo Furacão, conquistou seis vitórias e dois empates, com um aproveitamento de 83,33%. Porém, vale destacar que ele ficou apenas 46 dias no comando e deixou o clube por motivos até hoje obscuros.
Já a passagem mais curta e o pior aproveitamento são de Dejan Petkovic, hoje comentarista do Grupo Globo. No comando do Vitória, o sérvio ficou por apenas 23 dias e saiu após quatro jogos, com um empate e três derrotas (8,33% de aproveitamento).
O argentino Jorge Sampaoli está no Santos desde o dia 18 dezembro e tem um trabalho bem avaliado por torcida, clube e imprensa. Há pouco mais de cinco meses no Peixe, disputou 31 jogos oficiais, com 16 vitórias, oito empates e sete derrotas (60,21% de aproveitamento).
Aproveitamento dos técnicos gringos
Técnico |
Nacionalidade |
Equipe |
Ano |
Aproveitamento |
Lothar Matthaus |
Alemão |
Athletico-PR |
2006 |
83,33% |
Juan Carrasco |
Uruguaio |
Athletico-PR |
2012 |
67,59% |
Jorge Fossati |
Uruguaio |
Internacional |
2010 |
62,04% |
Sérgio Ramirez |
Uruguaio |
Avaí |
2008 |
61,90% |
Roberto Rojas |
Chileno |
São Paulo |
2003 |
60,67% |
Diego Aguirre |
Uruguaio |
Internacional |
2015 |
60,42% |
Jorge Sampaoli |
Argentino |
Santos |
2019 |
60,21% |
Diego Aguirre |
Uruguaio |
Atlético-MG |
2016 |
56,32% |
Diego Aguirre |
Uruguaio |
São Paulo |
2018 |
55,81% |
Daniel Passarella |
Argentino |
Corinthians |
2005 |
55,56% |
Sérgio Ramirez |
Uruguaio |
Avaí |
2007 |
53,97% |
Reinaldo Rueda |
Colombiano |
Flamengo |
2017 |
52,69% |
Juan Carlos Osorio |
Colombiano |
São Paulo |
2015 |
51,19% |
Hugo de León |
Uruguaio |
Grêmio |
2005 |
47,62% |
Dejan Petkovic |
Sérvio |
Athletico-PR |
2014 |
46,67% |
Edgardo Bauza |
Argentino |
São Paulo |
2016 |
44,44% |
Miguel Ángel Portugal |
Espanhol |
Athletico-PR |
2014 |
43,59% |
Paulo Bento |
Português |
Cruzeiro |
2016 |
41,18% |
Ricardo Gareca |
Argentino |
Palmeiras |
2014 |
27,78% |
Sergio Vieira |
Português |
América-MG |
2016 |
20,00% |
Dejan Petkovic |
Sérvio |
Vitória |
2017 |
8,33% |
E os técnicos gringos no Flamengo?
Caso seja contratado, Jorge Jesus será o 11º treinador estrangeiro do Flamengo. O último foi o colombiano Reinaldo Rueda, que ficou 147 dias no comando do clube no fim de 2017, com um aproveitamento de 52,69%, sendo vice-campeão da Copa do Brasil e da Sul-Americana.
Antes de Rueda, o último gringo no Flamengo foi o paraguaio Modesto Bria, zagueiro que foi ídolo do clube quando jogador. Ele ficou no cargo por 17 jogos em 1981, sem conseguir grandes resultados com a equipe que contava com Zico, Adílio, Junior, Leandro e Andrade.
O primeiro estrangeiro a treinar o Rubro-Negro foi o uruguaio Ramón Platero, em 1921, ficando apenas nove jogos no cargo, com somente três vitórias.
Ramon Platero, primeiro técnico gringo da história do Flamengo — Foto: Reprodução
*Clubes analisados pelo levantamento: América-MG, Atlético-MG, Athletico-PR, Avaí, Bahia, Botafogo, Ceará, Chapecoense, Corinthians, Coritiba, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Ponte Preta, Santos, São Paulo, Sport, Vasco e Vitória.