Fábrica de Talentos parte 1: como o Vitória virou referência na base e formou campeões mundiais

Fábrica Talentos Vitória virou

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Aqui você fica sabendo das notícias publicadas nos quatro maiores sites esportivos do Estado da Bahia, confira abaixo o que acabou de sair na mídia.

Nenhum clube formou mais jogadores campeões do mundo em 2002 que o Vitória. Dida, Júnior Nagata e Vampeta serviram como exemplos máximos do sucesso da Fábrica de Talentos que, duas décadas depois do auge, conheceu a decadência escancarada por uma forte declaração do técnico Thiago Carpini.

"Aquela base que revelou talentos para o mundo não existe mais", disse Carpini.

Na série "Fábrica de Talentos", divida em três partes, o ge explica como o Vitória virou uma potência no futebol de base durante os anos 90, o que aconteceu para o clube perder prestígio e o que o Rubro-Negro planeja para voltar a ser referência.

1 de 10 Fábrica de Talentos do Vitória formou três dos campeões do mundo com a Seleção em 2002 — Foto: Arte / ge
Fábrica de Talentos do Vitória formou três dos campeões do mundo com a Seleção em 2002 — Foto: Arte / ge

Parte 1: como o Vitória virou referência

Em um recorte dos últimos 35 anos, o Vitória levantou mais taças que nos 87 anteriores, além de vencer mais clássicos contra o Bahia. Os dois cenários passam por projetos que fizeram o Rubro-Negro mudar de patamar nos anos 90: a construção do Barradão, em 1986, e os investimentos na divisão de base. Quem explica é o jornalista e historiador Paulo Leandro.

"O Vitória investiu na base como uma forma de tentar assumir a hegemonia do futebol baiano, que era do Bahia desde sempre", afirma Paulo Leandro.

– Foi ali que o Vitória fez a ultrapassagem, o Bahia ficou muito acanhado. A revolução rubro-negra tinha dois pilares: colocar o Barradão para funcionar e investir na divisão de base. Naquela época não se fazia torneio de base importante sem o Vitória. A marca do Vitória estava no mundo todo – completa o historiador.

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O Vitória foi um dos pioneiros do futebol brasileiro ao olhar para a divisão de base e priorizar a formação do atleta. Para ter sucesso nesse projeto, Paulo Carneiro, então presidente rubro-negro, fez um movimento ousado em 1991 ao tirar Newton Mota do rival Bahia.

Mota trabalhava diretamente com o futebol de base e havia descoberto Zé Carlos e Charles, destaques na campanha do título do Campeonato do Brasileiro de 1988. Ao trocar o endereço de trabalho, o profissional mudou também a rota das principais descobertas do futebol baiano.

– Newton Mota saiu do Bahia e levou muitos jogadores. Eu fui um deles. Ele levou jogadores reservas na época: eu, Bebeto Campos, Giuliano… Depois dessas contratações, o Vitória teve crescente absurda, passou a ser modelo, fortaleceu o clube. Depois chegaram grandes jogadores – conta o ex-lateral e ex-treinador do Leão Rodrigo Chagas.

Paulo Carneiro afirma que 57 atletas que estavam no Bahia foram para o Vitória. Ele considera esse movimento o início da revolução nas categorias de base do clube.

– Dida fui eu que descobri em Alagoas, no jogo do Cruzeiro de Arapiraca, que era o time dele. Alex Alves, Paulo Isidoro também foram descobertos em Salvador. Vampeta também. Mas não era a base do Vitória ainda. Eles se engajaram no trabalho com a contratação de Mota. Ali nasceu a base do Vitória – recorda Paulo Carneiro.

Com o sucesso do grupo ex-Bahia, Newton Mota também ganhou a fama de "vilão" tricolor na história. Algo que ele se defende.

"O Bahia vivia momento de dificuldade financeira. O Bahia chegou a ter 80 jogadores na base e foi reduzindo. Os jogadores do Bahia iam para casa. Pegamos jogadores que o Bahia não quis. Depois que eu saí, o Bahia ganhou dois campeonatos sub-20. A maioria dos jogadores que saíram estavam em casa. E nós, quando fomos para o Vitória, começamos um novo trabalho", garante Newton Mota.

Newton Mota explica saída do Bahia e lembra sucesso na base do Vitória

Newton Mota conta que os pilares da revolução na base do Vitória vão muito além da chegada de jogadores que estavam no Bahia. Envolve, dentre outros pontos, o estabelecimento de uma maior quantidade de observadores espalhados pelo Brasil, além da criação de novas categorias.

– Nenhum clube tinha a quantidade de observadores que a gente tinha. O Vitória era sempre pioneiro nas suas ações. O Vitória chegou a ter oito categorias. A gente tinha jogadores a partir de oito anos de idade, lançava jogadores com coragem, com 17 anos, com 18 anos. Tudo isso, junto, fez do Vitória uma referência – resume Newton Mota.

"O treinador do Vitória tinha que saber que 30, 40% do seu elenco era da divisão de base", completa o ex-diretor de futebol de base do Leão.

2 de 10 Newton Mota (esquerda) e Paulo Carneiro fizeram dupla de sucesso na gestão da base do Vitória durante os anos 90 — Foto: Arquivo pessoal: Paulo Leandro
Newton Mota (esquerda) e Paulo Carneiro fizeram dupla de sucesso na gestão da base do Vitória durante os anos 90 — Foto: Arquivo pessoal: Paulo Leandro

Outra parte do plano do Vitória para aumentar o nível de desempenho e deixar os jogadores mais prontos para o cenário profissional era oferecer jogos aos atletas. E aí o Rubro-Negro passou a viajar o mundo com as categorias de base.

3 de 10 Revista do Vitória exibe países onde a base do clube disputou torneios no início dos anos 90 — Foto: Arquivo pessoal: Paulo Leandro
Revista do Vitória exibe países onde a base do clube disputou torneios no início dos anos 90 — Foto: Arquivo pessoal: Paulo Leandro

Antes da formação de atletas ser um projeto de Paulo Carneiro e Newton Mota, o Vitória já tinha revelado o maior jogador que passou pelas divisões de base do clube: Bebeto. Mas, com a Fábrica de Talentos em atividade, o Rubro-Negro transformou a exceção da década de 80 em regra nos anos 90. E a partir daquele momento a Toca do Leão virou referência no cenário nacional.

Jogadores revelados pelo Vitória na década de 1990:

Goleiros: Dida e Fábio Costa;
Zagueiro: Moisés;
Laterais: Rodrigo Chagas, Júnior Nagata e Leandro;
Meio-campistas: Vampeta, Paulo Isidoro e Fernando;
Atacante: Alex Alves.

4 de 10 Dida (no alto), Paulo Isidoro (esquerda) e Alex Alves (direita) estão entre as principais revelações do Vitória nos anos 90 — Foto: Arquivo pessoal: Paulo Leandro
Dida (no alto), Paulo Isidoro (esquerda) e Alex Alves (direita) estão entre as principais revelações do Vitória nos anos 90 — Foto: Arquivo pessoal: Paulo Leandro

Sucesso transforma estrutura

Não demorou muito para o Vitória colher no profissional os frutos plantados na divisão de base. O clube que começou a década de 90 com 11 títulos estaduais, venceu mais cinco nos dez anos seguintes, ganhou duas Copas do Nordeste, além de chegar a duas semifinais e uma final de Campeonato Brasileiro.

Na final do Brasileiro de 1993, jogo mais importante da centenária história rubro-negra, estavam Dida, Rodrigo Chagas, Paulo Isidoro, Giuliano e Alex Alves. Cinco titulares eram produzidos pela Fábrica de Talentos. E o número subiu para sete na semifinal de 1999: Fábio Costa, Moisés, Pedro Paulo, Paulo Rodrigues, Tácio, Fernando e Cláudio Tauá.

5 de 10 Na fila do meio, Rodrigo Chagas é o segundo (da esquerda para a direita) em foto do elenco do Vitória de 1993 — Foto: Revista Placar
Na fila do meio, Rodrigo Chagas é o segundo (da esquerda para a direita) em foto do elenco do Vitória de 1993 — Foto: Revista Placar

A Fábrica de Talentos não rendeu ao Vitória uma taça nacional, mas junto aos outros importantes títulos conquistados durante os anos 90, o clube somou também muito dinheiro com os jogadores vendidos.

Paulo Isidoro, Alex Alves e Júnior Nagata foram para o Palmeiras; Dida, para o Cruzeiro; Rodrigo Chagas, para o Bayer Leverkusen; e Vampeta foi vendido para o PSV. Com os cofres cheios, o Vitória investiu na estrutura da base e manteve em funcionamento um projeto que rendeu jogadores e lucro até 2010.

– Nós disputamos o primeiro torneio na Holanda fruto da venda de jogadores Rodrigo [Chagas] e Ramon [Menezes] para o Bayern Leverkusen – lembra o ex-presidente Paulo Carneiro.

6 de 10 Vitória homenageia Bebeto com nome de campo na Toca do Leão — Foto: Victor Ferreira / EC Vitória
Vitória homenageia Bebeto com nome de campo na Toca do Leão — Foto: Victor Ferreira / EC Vitória

Em 1997, já após importantes vendas que fizeram a Fábrica de Talentos funcionar com melhores engrenagens, Bebeto voltou a vestir as cores do Vitória. O atacante, que viveu a divisão de base no início dos anos 80, ficou impressionado com o que encontrou no retorno ao clube.

"Eu brincava em um campo que era horrível, não tinha nem grama. A gente mudava de roupa em um vestiário velho, as roupas todas sujas, rasgadas. Quando retornei foi totalmente diferente. A estrutura era outra. Eu fiquei tão feliz quando eu vi o Vitória com três ou quatro campos para treinamento, dando assistência para a base", recorda Bebeto, a maior revelação da história rubro-negra.

7 de 10 Bebeto na Toca do Leão — Foto: Victor Ferreira / EC Vitória
Bebeto na Toca do Leão — Foto: Victor Ferreira / EC Vitória

O goleiro Felipe, revelado pelo Vitória e com importantes passagens por Flamengo e Corinthians, também viu de perto a evolução da estrutura de base do clube. Ele chegou ao Rubro-Negro em 1996, subiu para o time profissional e deixou a Toca do Leão em 2005.

Formado na Toca do Leão, Felipe lembra passagem pela base: “Sempre à frente”

– Sempre à frente das outras. Tinha o Barradão e o campo do Perônio onde revelava a galera. Eu saí do Vitória em 2005, e o clube já tinha uma estrutura boa na base. Eu morei de 1999 a 2001 no Barradão. Tinha concentração com quartos, ar condicionado, ônibus para levar para a escola – lembra o goleiro.

"O Vitória sempre foi muito à frente dos outros clubes, com muitos jogadores convocados. Eu fui para todas as seleções de base. Chegou a ter convocação para irem os dois goleiros: eu e Carlos Vitor, que era meu reserva. O Vitória, na base, era muito à frente", completa Felipe, ex-goleiro do Leão e com passagens de sucesso por Flamengo e Corinthians.

Quando Felipe estreou pelo profissional, no começo dos anos 2 mil, o Vitória viu o Brasil ser pentacampeão do mundo com três jogadores formados na Fábrica de Talentos. Responsável por 13% dos convocados, ficou ao lado do São Paulo entre os clubes que mais formaram jogadores para aquele título. Era o auge do projeto iniciado na década anterior.

Formação dos pentacampeões mundiais:

Vitória: Dida, Júnior Nagata e Vampeta;
São Paulo: Cafu, Denílson e Kaká;
Cruzeiro: Ronaldo e Belletti;
Grêmio: Ronaldinho Gaúcho e Anderson Polga.

8 de 10 Vampeta (o quinto, da direita para esquerda, em pé), Dida (12) e Junior (16) na Copa do Mundo de 2002 — Foto: Wilson Carvalho/CBF
Vampeta (o quinto, da direita para esquerda, em pé), Dida (12) e Junior (16) na Copa do Mundo de 2002 — Foto: Wilson Carvalho/CBF

Enquanto isso, na Toca do Leão, uma nova safra de jogadores fabricados recebeu missões mais ingratas. Durante boa parte dos anos 2000, a briga do Vitória não foi mais por grandes títulos, mas para tirar o clube do fundo do poço representado pelo rebaixamento para a Terceira Divisão do futebol brasileiro.

Foi entre rebaixamentos e acessos que o clube revelou Alex Silva, Obina, Hulk, Marcelo Moreno, David Luiz, Wallace Reis e outros nomes que construíram carreiras relevantes no cenário nacional e internacional.

Jogadores de destaque revelados pelo Vitória entre 2000 e 2010:

Goleiro: Felipe;
Zagueiros: David Luiz, Alex Silva, Victor Ramos, Anderson Martins, Wallace Reis e Gabriel Paulista;
Meio-campistas: Xavier e Dudu Cearense;
Atacantes: Nadson, Obina, Alecsandro, Marcelo Moreno, Hulk, Marquinhos e Elkeson.

A base do Vitória foi pilar para a reestruturação do clube, ajudou a recolocar o Rubro-Negro na Primeira Divisão e, com um último sopro do projeto construído quase 20 anos antes, conduziu o time para mais uma final nacional em 2010.

A decisão da Copa do Brasil, contra o Santos, no Barradão, teve Anderson Martins, Wallace Reis, Neto Coruja e Elkeson entre os titulares. No segundo tempo, Gabriel Paulista também foi a campo. Mais uma vez, o título nacional não veio, mas o carimbo da Fábrica de Talentos voltou a ganhar exposição e notoriedade.

9 de 10 Anderson Martins marca André na final da Copa do Brasil de 2010 — Foto: Felipe Oliveira / EC Vitória
Anderson Martins marca André na final da Copa do Brasil de 2010 — Foto: Felipe Oliveira / EC Vitória

Depois de revelar três jogadores campeões do mundo em 2002, o Vitória, na década seguinte, fabricou seus últimos selecionáveis: Hulk, David Luiz, Elkeson e Gabriel Paulista.

A Fábrica de Talentos não tem um atleta convocado desde Hulk, em 2021. E os últimos jogadores a defenderem a Seleção enquanto estavam na Toca do Leão foram Dudu Cearense e Nadson, em 2003. Uma dura realidade que escancara um declínio repleto de assinaturas.

10 de 10 Dudu Cearense foi artilheiro do Mundial Sub-20 em 2003. No mesmo ano, defendeu a Seleção principal na Copa das Confederações — Foto: Arquivo Pessoal
Dudu Cearense foi artilheiro do Mundial Sub-20 em 2003. No mesmo ano, defendeu a Seleção principal na Copa das Confederações — Foto: Arquivo Pessoal

O que aconteceu para o Vitória deixar de revelar jogadores e perder prestígio no cenário da formação de atletas é assunto para a segunda parte da série "Fábrica de Talentos", do ge, disponível aqui.

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Fonte: https://ge.globo.com/ba/futebol/times/vitoria/noticia/2025/07/02/fabrica-de-talentos-parte-1-como-o-vitoria-virou-referencia-na-base-e-formou-campeoes-mundiais.ghtml


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