Com salários atrasados, sub-23 ameaça não treinar; funcionário relata intimidação e drama

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Por conta dos atrasos, jogadores do time de aspirantes ameaçaram não treinar nesta terça-feira. O presidente do Vitória, Paulo Carneiro, teve que ir a campo e convencer o grupo a mudar de ideia. No sábado, o Rubro-Negro tem jogo pelo Campeonato Baiano contra o Atlético de Alagoinhas.

Ao GloboEsporte.com, um funcionário do Vitória, que prefere não se identificar, relatou a dificuldade enfrentada pelos trabalhadores e criticou a atitude do presidente Paulo Carneiro que, segundo ele, ameaçou o grupo.

– Quem recebe em dia são os profissionais. O sub-23 está na mesma situação de outros funcionários do clube, sem receber 13º, dezembro, janeiro, não receberam nada. Hoje pela manhã, eles disseram que não iriam entrar em campo para treinar, até que o presidente desceu e, na frente de todos, ameaçou que, se não entrassem em campo, iria colocar todos para fora – relatou.

A informação foi confirmada, ainda, por outras fontes, ligadas a atletas do clube.

– [Paulo Carneiro teve] Atitude arrogante. Na semana passada, teve um representante do sindicato dos funcionários, e ele [Carneiro] disse ao representante que não iria pagar, que quem quisesse poderia sair do clube, procurar a justiça. Uma situação muito delicada. Funcionários sem receber 13º, dezembro e janeiro – continua o funcionário do Vitória.

O GloboEsporte.com entrou em contato com o Vitória, que informou desconhecer a ameaça de não treinar dos aspirantes e disse que não vai se manifestar sobre os salários atrasados. Paulo Carneiro não atendeu às ligações da equipe de reportagem.

Por conta dos atrasos, funcionários do Vitória de menor poder aquisitivo atravessam dificuldades e recebem ajuda de colegas. Alguns têm problemas para chegar ao trabalho e acabaram se endividando.

"Na verdade, sempre a gente vê jogadores ajudando. Eu já ajudei um funcionário, que me pediu R$ 50, para pagar uma conta, porque iam cortar a luz dele. Mas os relatos são tristes. A gente vê um funcionário que recebe muito pouco dizer: 'Está começando a escola da minha filha, e eu não consegui comprar o estojinho que ela pediu'", conta.

– Tem funcionário que, até para ir trabalhar, não tem o meio de trabalhar, não tem o dinheiro para botar uma gasolina na moto. As pessoas que dependem disso usam o cartão de crédito, vai entrando juros. Mesmo que receba o valor depois, os juros, já não vai dar mais conta. Uma situação muito triste. De alguma forma, dinheiro tem entrado para o clube, porque o clube está fazendo uma série de obras, trouxe uma série de jogadores. E a gente sabe que esses jogadores, para vir, estão recebendo algum dinheiro.

O departamento médico do Vitória também foi afetado pelos problemas. Alguns profissionais, demitidos com a chegada da nova gestão em abril de 2019, ainda não receberam integralmente o valor da rescisão de contrato. Eles trabalhavam em regime CLT e passaram a ser pessoas jurídicas. Os fisioterapeutas não recebem desde dezembro de 2019, e os massagistas também não tiveram o 13º salário.

– Alguns que tinham carteira assinada, com a chegada do presidente, foram demitidos. Assim como outros funcionários demitidos, a rescisão trabalhista foi dividida. Das seis parcelas, foram pagas quatro, e acabou – contou.

O colaborador conta que a decisão da diretoria de investir na contratação de jogadores, bem como de pagar apenas os atletas profissionais, tem chateado os outros trabalhadores do Vitória. Para esta temporada, foram contratados 10 atletas. Alisson Farias, por exemplo, teve 60% dos direitos econômicos adquiridos pelo Vitória.

– O sub-23, que teoricamente é uma categoria profissional, está sem receber. E esse tratamento diferente tem causado protestos em treino. Uma hora isso vai explodir, porque, quando mexe com a parte financeira e a pessoa tem outra opção fora do clube, ela consegue. Mas, quando a única opção financeira é o clube, uma hora essa história tende a dar errado – relatou.

O colaborador do clube destaca que já sofreu com atrasos salariais antes, mas as dívidas perduravam por menos tempo. Segundo ele, essa gestão é a primeira a ficar em débito com os pagamentos durante tanto tempo.

– Na verdade, a primeira vez que os salários estão atrasando dessa forma é nessa diretoria. A diretoria passada atrasou um, e, quando estava para atrasar o segundo mês, pagou. A situação mais grave agora. Não tinha essa questão de pagar um e não pagar outro. Como você justifica uns terem seis meses de salário atrasado e o outro estar em dia?

"Inclusive, segundo fontes de lá, os salários do presidente e do vice-presidente estão em dia. Até janeiro está pago. Normalmente, numa empresa, prioriza o funcionário. O presidente, o dono da empresa, é o último a tirar a parte dele. Lá acontece o contrário. O dele está em dia. O dos funcionários, atrasado", concluiu.