Ba-Vi 500: como a final do Baiano de 1999 teve times em estádios diferentes e foi decidida no tapetão

Ba-Vi final Baiano times

O barradao.com traz para você mais uma notícia do Esporte Clube Vitória.
Aqui você fica sabendo das notícias publicadas nos quatro maiores sites esportivos do Estado da Bahia, confira abaixo o que acabou de sair na mídia.

Em 1999, Bahia e Vitória levantaram a taça de campeões baianos. A frase pode soar esquisita, mas é a pura verdade. Os dois times conquistaram o título daquela edição do estadual sem sequer se enfrentarem em um dos jogos da final. O resultado disso foi uma longa polêmica que contou com uma equipe em cada estádio na grande decisão, torcedores revoltados e disputa na justiça encerrada seis anos depois.

A quatro dias do Ba-Vi 500, o ge conta a história do clássico válido pela decisão do Campeonato Baiano de 1999. O único que não aconteceu, mas que foi tão marcante quanto os 498 disputados até aqui.

No início de 1999 tudo caminhava para mais uma final de estadual como todo mundo já conhece, com muita disputa e rivalidade em dois jogos para decidir o campeão. O Bahia venceu o primeiro turno, enquanto o Vitória foi campeão do segundo com melhor campanha geral no torneio. Os dois passaram sem muitos problemas pelos rivais e naturalmente iriam decidir o campeão com a partida derradeira no Barradão.

Petkovic em campo no Ba-Vi da final do segundo turno do Campeonato Baiano, antes do polêmico clássico que não aconteceu — Foto: Reprodução

Equipes que disputaram o Campeonato Baiano de 1999: Atlético de Alagoinhas, Bahia,Camaçari, Conquista, Cruzeiro, Galícia, Juazeiro, Poções, Vitória e Ypiranga.

No dia 6 de junho de 1999, a dupla Ba-Vi se encontrou na Arena Fonte Nova para o primeiro jogo da final do Baianão, e o Bahia levou a melhor vencendo por 2 a 0. O segundo jogo seria no Barradão, e o Vitória teria a vantagem de vencer por um placar semelhante para levantar o troféu, já que tinha campanha superior à rival.

O início da polêmica

Capa do jornal A Tarde prevê que final do Baiano poderia não acontecer — Foto: Rafael Carmo / ge

Mas, antes do jogo final, um elemento surpresa apareceu e mudou os rumos desta decisão de Campeonato Baiano. O Clube de Regatas Itapagipe, à época voltado para a prática do remo, entrou com uma ação na Justiça contra a realização do segundo jogo da final do Campeonato Baiano no Barradão.

Segundo o clube, eles agiram na "defesa dos interesses dos consumidores baianos" e alegaram que o estádio do Vitória não tinha capacidade e estrutura suficientes para abrigar uma partida deste tamanho.

Parece meio aleatório um clube de remo interferir em uma final de campeonato que seria disputada entre os dois maiores rivais do estado. Mas esse foi apenas um artifício usado pelo Bahia para dar o “troco” de um episódio que aconteceu no Campeonato Brasileiro de 1996, como revelou, em entrevista exclusiva ao ge, Marcelo Guimarães, presidente do Bahia à época.

– Eu não teria motivos para depois de ter dado 2 a 0 não ir para o Barradão. Quando Paulo Carneiro [presidente do Vitória] mudou o jogo do Vitória contra o Fluminense para Cariacica (ES) [pelo Campeonato Brasileiro de 1996], entregou o jogo para rebaixar o Bahia. O Bahia ia jogar no Rio de Janeiro contra o Flamengo. Então, se o Bahia perdesse, o que era lógico, o Vitória iria entregar o jogo.

“Eu só fiz isso pela sacanagem de Paulo Carneiro ao transferir o jogo do Brasileiro para rebaixar o Bahia em 1996”.

Marcelo, então, aproveitou sua influência no Itapagipe para usar o clube como um facilitador nesse processo de transferir o segundo jogo para a Fonte Nova.

– Eu apresentei a ação para o juiz Clésio Rosa, mas eu precisava de alguma outra entidade esportiva, por isso escolhi o Itapagipe. Depois de ter o documento assinado, eu fui até a casa de Clésio Rosa, ele já me esperava. Logo após analisar, ele disse que estava tudo certo e iria dar a decisão no dia seguinte.

No dia 11 de junho de 1999, a sexta-feira que antecedeu o jogo realizado no domingo, o juiz Clésio Rosa, da 17ª Vara Cível, acatou o pedido e concedeu liminar à ação do Itapagipe. Diante dessa situação, o local do segundo jogo da final foi transferido para a Fonte Nova.

Capa do jornal A Tarde logo após o Ba-Vi que não aconteceu — Foto: Rafael Carmo / ge

A Federação Bahiana de Futebol (FBF) acatou a decisão judicial e marcou o segundo jogo para a Fonte Nova. Ao Vitória só restava recorrer à Justiça Desportiva. Sem sucesso, a final foi oficialmente marcada para a Fonte Nova.

Comemoração de um lado

No dia 13 de junho de 1999, data da decisão, o Vitória alegou que não foi notificado sobre a decisão do juiz Clésio Rosa e levou o seu time para o Barradão, onde o clássico estava marcado inicialmente. Estava instalada a polêmica. Enquanto o Rubro-Negro chegava ao seu estádio, a delegação do Bahia foi para a Fonte Nova, local oficial do segundo confronto da final.

Reportagem do jornal A Tarde sobre o clima da Fonte Nova para a final do Baiano de 1999, que não aconteceu — Foto: Rafael Carmo / ge

Na Fonte estavam o árbitro Gustavo Mendez, todo o elenco do Bahia e mais de 10 mil torcedores que viviam a expectativa de ver o clássico. Todos acompanharam o Tricolor ir a campo sem adversário e marcar um gol simbólico com Cadu para o que seria o título conquistado por W.O., sigla usada para situações em que o adversário não está presente ou é impossibilitado de competir.

Torcedores invadiram o campo para comemorar, alguns deles sem muita animação, como descreve as páginas do jornal A Tarde um dia após esse capítulo histórico do futebol baiano. Uma taça simbólica, feita por um dos espectadores, foi entregue durante a volta olímpica. Mas teve quem reclamasse de todo aquele cenário, alegando ingratidão dos diretores com os torcedores que foram prestigiar o clube.

Joel Santana é carregado por jogadores do Bahia na volta olímpica após o Bahia ser declarado vencedor do Baiano de 1999 por W.O. — Foto: Rafael Carmo / ge

Comemoração do outro lado

Do outro lado da cidade, no bairro de Canabrava, o Vitória seguia o protocolo padrão dos dias de jogo sob a alegação de que não havia recebido nenhum comunicado oficial da Federação Bahiana. No final da tarde, os atletas rubro-negros entraram em campo normalmente e foram recepcionados por cerca de 800 torcedores.

Paulo Carneiro, presidente do Vitória à época, contou, em entrevista ao ge, bastidores da decisão do Vitória em seguir o plano de jogar no Barradão.

– A rivalidade entre Bahia e Vitória sempre foi muito grande, e o Barradão foi um fato novo na história dos Ba-Vi. O Ba-Vi sempre era realizado na Fonte Nova. Quando concluímos o Barradão e brigamos para que ele fosse o mando de campo do Vitória, a diretoria do Bahia tinha medo de jogar ali, o Vitória ganhava a maioria dos clássicos naquele estádio. Eles temiam o Barradão, a gente tinha um grande time com Petkovic de capitão, recém-chegado do Real Madrid.

Jogadores do Vitória no Barradão para disputar a final do Campeonato Baiano de 1999 contra o Bahia — Foto: Reprodução

Quando perguntado sobre o suposto medo de jogar no Barradão, Marcelo Guimarães respondeu com prontidão que o Bahia seria campeão de qualquer forma.

– Eu já tinha dado 2 a 0, estava com o campeonato na minha mão. Eu não ia tomar 3 a 0 lá dentro, meu time era bom. Eu fiz isso tudo por esse caso em que ele tentou transferir o jogo para Cariacica.

Um dirigente do Bahia à época tinha sido o presidente do Itapagipe, então conseguiram uma liminar na justiça, e, na sexta-feira, eu recebi a notícia de que havia uma liminar obrigando o Vitória a jogar na Fonte Nova. Evitei de receber a liminar, fechei o Vitória e domingo nós fomos para o Barradão, enquanto o Bahia entrou na Fonte Nova”.
— Paulo Carneiro

Sob forte aparato policial, assim como na Fonte Nova, os rubro-negros nas arquibancadas provocavam o Bahia a todo instante e diziam que era tudo uma armação para tirar o troféu das mãos do Vitória. No final, também houve comemoração e gritos de "é campeão" no estádio Manoel Barradas.

Torcedores do Vitória protestam no Barradão por indecisão acerca da final do Campeonato Baiano de 1999 — Foto: Rafael Carmo / ge

O Barradão tinha condições de jogo?

A dúvida que restava por parte do torcedor baiano era se a alegação do Itapagipe sobre a estrutura do Barradão procedia. De acordo com Paulo Carneiro, depois de inaugurações iniciais em 1986, sem arquibancadas e iluminação, o estádio teve condições de receber grandes jogos a partir de 1994.

– Já tinha cinco anos que o Barradão tinha totais condições de jogo. O Barradão foi inaugurado em 1986 de forma precária, não tinha condições de jogo, aí quando eu cheguei no Vitória em 1991 nós fizemos uma inauguração provisória, sem iluminação e arquibancada, além de todas as outras instalações. Mas em 1994 inauguramos o estádio em uma partida contra o Náutico, com todas as instalações necessárias para a prática do futebol de dia ou de noite, e esse jogo [Ba-Vi] foi em 1999. Portanto já haviam cinco anos que o estádio estava em totais condições. Fazíamos jogos normais do Brasileiro no Barradão.

O que aconteceu depois?

Quando percebeu-se que não ia ter jogo na Fonte Nova, o árbitro deu o triunfo ao Bahia por W.O., o que faria do Tricolor bicampeão estadual. A Federação Bahiana de Futebol, porém, não reconheceu o Bahia como campeão, e as duas diretorias foram disputar esse troféu nos tribunais.

– Isso aí [a divisão do título] foi um pedido que o presidente [da Federação Bahiana] Ednaldo Rodrigues fez a mim. Ele estava entrando na federação como presidente, nós tínhamos, como temos até hoje, uma relação muito boa, e ele não queria aquela marca para o futebol da Bahia de deixar a decisão na justiça. Eu acho que o Vitória ia ganhar, porque tínhamos o direito, estávamos com o regulamento debaixo dos braços. Mas ele fez um pedido pelo bem do futebol da Bahia, e eu atendi o pedido dele – relatou Paulo Carneiro.

Imagem da torcida do Vitória no Barradão com a faixa de campeão baiano — Foto: Rafael Carmo / ge

O mesmo pedido chegou para Marcelo Guimarães, que também tratou com naturalidade a divisão do título entre Bahia e Vitória.

– Para não gerar mais confusão, concordei com a decisão para acabar com a história – conclui Guimarães.

O ge tentou contato com Ednaldo Rodrigues, atualmente presidente da CBF, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

O veredito só saiu mesmo em 2005, e o título foi dividido entre as duas equipes. O Campeonato Baiano de 1999 estava, portanto, decidido no "tapetão”, como é conhecida a prática de alterar, via tribunal, um resultado conquistado em campo.

O Bahia, que atualmente tem 50 títulos do Baiano, e o Vitória, que tem 30, conquistaram, assim, a mais polêmica edição do estadual. Não por acaso, o debate sobre o assunto segue até hoje. E vai seguir, afinal de contas, ele já faz parte da rica história da rivalidade.

*Sob supervisão de Ruan Melo

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Fonte: https://ge.globo.com/ba/noticia/2025/01/29/ba-vi-500-como-a-final-do-baiano-de-1999-teve-times-em-estadios-diferentes-e-foi-decidida-no-tapetao.ghtml


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