Divisão de Base: um sonho transformado em pesadelo Carlos Anunciação comenta golpe aplicado

Uma pessoa está se fazendo passar por Carlos Anunciação, coordenador das divisões de base do Vitória, para conseguir dinheiro em troca de uma falsa promessa de levar jovens atletas para o clube baiano. Pelo menos seis pessoas de diferentes estados foram contatadas pelo suposto estelionatário através de uma rede social, sendo que duas chegaram a transferir a quantia solicitada. O funcionário do Rubro-Negro registrou boletim de ocorrência na 10ª delegacia, no bairro de Pau da Lima, em Salvador.

O autor do golpe embolsou cerca de R$ 300 de vítimas do Rio de Janeiro e interior de São Paulo. O modo de agir foi o mesmo em ambos os casos: o impostor garante o pagamento das passagens dos garotos para Salvador, mas precisa receber o valor referente às tarifas das passagens. A quantia é relativamente baixa para não chamar atenção.

O dinheiro é transferido para a agência da Caixa Econômica Federal localizada na Piedade, em Salvador. Procurado, o delegado que investiga o caso não quis dar entrevista. O titular da conta divulgada para o depósito está sendo investigado, mas há a possibilidade de ser uma conta aberta com documentos falsos. Diante disto, houve a decisão de não divulgar o nome. O acusado está sendo investigado por estelionato.

Tentativas recentes

Os primeiros registros de golpes começaram na última semana de maio, data que coincide com a atualização do perfil falso criado em nome do coordenador rubro-negro. Nesse período, ele adicionou várias pessoas ligadas ao futebol de alguma forma, sobretudo profissionais que trabalham com categorias de base. Os contatos, então, tiveram início, sempre pela rede social.

Inicialmente, o falso Carlos Anunciação postou uma mensagem, na qual dizia que precisava de um lateral-direito e um volante nascidos nos anos de 2002/03/04. O Vitória, segundo ele, ofereceria alojamento e alimentação. A mensagem é marcada por erros de português.

Em contato com a reportagem do GloboEsporte.com, Carlos Anunciação contou que levou um susto quando começou a receber ligações de pessoas de diferentes estados brasileiros em busca de informações sobre o contato feito online.

– Me ligou um cara do interior de São Paulo querendo confirmar comigo se estava tudo certo para eu receber no Vitória cinco atletas. Aí eu falei: ‘Não. Eu não agendei cinco atletas’. O cara falou para mim: ‘Eu conversei com você, Carlos Anunciação. Está tudo certo. A gente depositou dinheiro’. Eu fiz: ‘Que dinheiro? Depositou dinheiro? Acertou comigo? Não, meu amigo. Você está caindo em algum golpe’ – contou o coordenador da base do Vitória.

“Nesse meio tempo chegou uma ligação da Paraíba questionando a mesma coisa. Daqui a pouco chegou uma ligação de São Paulo. Eu fiquei doido, cara”.

A vítima do interior de São Paulo é Rodrigo Mussi, da cidade de Pereira Barreto, um advogado que atua na área esportiva e tem parceria com alguns agentes. Em contato pela rede social, ficou acertado que Mussi poderia mandar até cinco atletas, mas ele só conseguiu autorização para que dois viajassem.

 

O impostor, então, envolveu um suposto investidor italiano na história e disse que seriam emitidas três passagens, uma para que o advogado conhecesse a estrutura do Vitória. A única condição era que Rodrigo Mussi arcasse com as tarifas.

– Ele pediu meus dados, perguntou qual o aeroporto mais preto. Falou que eu iria no sábado, mas não mandou as passagens. Ele falou que estava tudo certo e disse que o italiano pagaria. R$ 43 de taxa de embarque para cada passagem. Dava R$ 129 reais. Não chegou a passagem. Sexta, depois do almoço, liguei no Vitória, falei com um tal de Leandro, que me passou o celular de Carlos [Anunciação]. Falou que não tinha falado comigo – disse Rodrigo Mussi.

“Está próximo de mim”

Ao entrar em contato com as vítimas, Carlos Anunciação descobriu que o suposto estelionatário usou um formulário cedido pelo próprio Vitória para a inscrição de jovens atletas que queiram fazer teste no clube. Ter acesso a esse documento relativamente simples, como explica o coordenador da base do clube.

– Esse cara conhece. Ele mandou para os caras a ficha de autorização do Vitória. Essa ficha, se você chegar no Vitória querendo inscrever um garoto, que isso eu não posso fechar o portão… Ali, o cara pode estar vindo com uma pérola. Uma mãe, um pai, um torcedor. A gente coloca o menino para fazer o teste, toma todos os cuidados no sentindo de pegar autorização dos pais, eletrocardiograma e tal. E você recebe, ou por e-mail ou em mãos, uma ficha para o pai fazer a autorização. São duas fichas: a ficha quando é para o menino ficar alojado ou a ficha para o menino de Salvador quando vem fazer o teste. Tem que ter autorização dos pais. Então, esse cara está próximo de mim – disse Anunciação.

Quem também caiu no golpe foi Pedro Valente, da agência N10 Sports, do Rio de Janeiro. Contatado pelo falso Carlos Anunciação, ele buscou informações a respeito do coordenador da base rubro-negra, atestou que se tratava de um cara sério, mas manteve as conversas apenas pelas redes sociais. Com a promessa de que o clube arcaria com as passagens, fez um depósito de R$ 158 para arcar com as taxas de embarque.

Ao receber um código de voo falso, Valente entrou em contato com a companhia aérea e descobriu que havia caído em um golpe.

– Eu entrei em contato com ele depois, falei que era um golpe e que todo mundo já sabia. Ele falou: “Que conversa é essa, rapaz? Não estou entendendo”. E me bloqueou – contou.

Pedro Valente registrou boletim de ocorrência em uma delegacia do Rio de Janeiro e aguarda o desfecho do caso. Preocupado, Carlos Anunciação faz um alerta às pessoas para que não acreditem em falsas promessas.

– O futebol é uma grande ambição do povo brasileiro, principalmente das grandes famílias, de preferência as famílias com condição financeira baixa. Mas só que o pessoal fica cego quando aparece uma oportunidade. Como é que eu vou colocar na rede social que o Vitória está precisando de jogador A, jogador B ou jogador C? Alimentação, hospedagem. Eu não posso. Outra coisa, eu sou acompanhado hoje pelo Ministério Público. Tudo o que a gente faz na divisão de base tem que ter o consentimento do Ministério Público. A gente não pode, de forma alguma, envolver valores para qualquer tipo de situação – explicou.